segunda-feira, 30 de julho de 2018

Um flutuar translúcido e inquieto e atemporal

Era um rapaz alto e distraído e excepcional, mal andava com os pés no chão. E tinha o costume de pensar em coisas que as pessoas, geralmente, não se deixam pensar. Se debruçava, mentalmente, por cima dos montes de ideias a catar alguma que lhe tirasse o sono, extensa o suficiente pra distraí-lo por horas.
Não aguentava estar quieto, o sentir-se calmo lhe desconcentrava. Ele precisava das dúvidas e incertezas que nasciam dos novos pensamentos, como crianças pequenas que nunca saíam da fase dos "por quês", ou uma faísca inicial que movimenta toda a máquina do eu.
Um dia avistou, num canto de si, o tempo, tímido e impensado. Será que o tempo realmente passa? A vida, que se conta em dias e horas e anos, poderia ser contada de outro jeito? Suportariam, os seres humanos, enxergá-la como um desenrolar contínuo de acontecimentos, sem que se dividisse a rotina em qualquer intervalo de tempo? Haveria rotina?
A vida e as pessoas e ele próprio eram muito mais do que um somatório de dias e noites e tempo. Eram um todo de complexidades, um amontoado de sentimentos e racionalidades, uma sequencia de ligações umbilicais e amores em graus infinitos.
Como é bonito sentir coisas que não se pode explicar. 
E chorou por alguns instantes. Não saberia dizer quantos, se desvencilhou dos minutos pra se agarrar às paixões e as vidas em si. 

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