Ela queria poder falar da simplicidade das coisas, da leveza que se tem diante de uma alergia pontual e desconsertante. Tentava compreender as frases de um livro em sua imensidão integral, imaginando o que teria levado o autor a escolher aquelas palavras no lugar de tantas outras.
Queria poder acariciar alguém que mal conhece, só pelo simples querer, ou beijá-lo nos olhos e nos ombros e nas orelhas, sem que isso parecesse esquisito ou romântico demais. Era uma questão de expressar-se plenamente o amor em si sem se preocupar com as construções sociais que tolhem as pessoas e as constrangem a um amar murcho e ensimesmado.
Além disso, ela costumava olhar as pessoas nas ruas e imaginar seus pesos e alegrias e toda a história que carregariam consigo, como uma enorme sombra colorida presa a seus calcanhares, um amontoado de sonhos e hábitos e vastidão. Quais seriam suas dores e amores? Teriam esses desconhecidos sensibilidade para compreender o olhar dela sobre eles? Poderiam eles sentir sua empatia?
As vezes ela sentia uma necessidade enorme de cuidar das pessoas; pegá-las pela mão e amá-las em pequenos atos, como na noite anterior quando conduziu um menino que vendia balas na rua até um restaurante e pagou-lhe as duas próximas refeições.
E, muito por isso, gostava de fazer carinhos. Simples assim, acariciava as pessoas de quem gostava, com delicadeza e empenho, como se querendo transmitir, através do toque, todo o afeto dentro de si.
Era um amar fácil e descuidado, como uma folha amarelada que se solta de uma árvore cansada e se entrega ao vento, dançarina pra longe dali.
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