segunda-feira, 29 de julho de 2024

Te amo mais

Quase sinto, em casa, a casa que minha mãe me é
E me amansa os desesperos, a presença tua
Sei de você com uma delicadeza bonita
De um sentir sincero e calmo,
do tanto que sou sua

Venho sendo muitas, cada vez mais
E sorrio comprido de te ter tão perto
Não esperava um sentir tão nosso,
um gostar tão firme
e você, em verso

Hoje, o mar da vida, revolto e maternal, 
me pega nos braços tantos
E me conforta um dia morno
com gosto de colo, rotina e dos nossos cantos

Aos poucos me acostumo
com o tanto de nós
Finalmente, vi:
Me demoro em mim
Enfim, descanso em ti

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Eu nas minhas curvas

Toda vez que eu penso um pouco mais, me acabo perdendo nas esquinas de mim. E chego tarde.
Toda vez que eu tento um pouco mais, me estrepo nas pedras portuguesas das minhas expectativas infantis. E sofro um pouco.
Eu, quando espero demais, acabo sabendo cada vez menos. Pra sentir muito as coisas todas.

Me coloquei numa capa transparente que me permite e me nega o mundo ao mesmo tempo. Sem querer. A Debora diz que é proteção. Eu acredito.
Me protejo de tudo e me nego gostar profundo. Durmo pouco, sinto muito e me distraio o tempo todo.
Os dias me atravessam, um por um, incômodos e constantes e deliciosos e insuficientes.

Eu me conforto na nostalgia e na novidade das coisas.
Escrevo distante de mim, quase que nem todo o resto.
O banho quente me espera antes de dormir. Que bom.
Minha mãe me perguntou da vida. Fiz ela rir um pouco.

Os dias tem sido quentes até quando não faz calor.

terça-feira, 16 de maio de 2023

Acordei só de manhã

O rio fundo da vida, revolto e maternal, me transborda as novidades
Encharco os pés num gostar tranquilo
Não penso mais em precipitar

As margens de mim já não cabem mais
E me dói um pouco crescer pra sempre
Ao mesmo tempo que me alivia
poder estar distante de antes

Finjo uma leveza que também é minha
Mas que se esconde quando te ve
Me preocupam menos as coisas todas
E já não me inquieta mais tanto a incerteza

Sonhei com você do jeito que você é, quase não era sonho
Acordei sorrindo, sofrida
Sonhei que era muito muito fácil 
E que eu me deixava viver

O tempo ainda me olha, ansioso
Do espelho do meu banheiro quando bate sol
Da grade do meu vizinho da frente
Do outro lado da vida
Hoje, amanhã e semana passada

Mas hoje eu cantei na cozinha
E não andei pesada quando saí
Me cansou menos falar do que me falta
Lembrei da gente nas ladeiras de madrugada

Hoje eu dormi a noite inteira
Aceitei um pouco o agora da vida
E nem acordei pra fazer xixi

domingo, 1 de maio de 2022

Desconforto

Subi num pé de demora e não soube mais descer
Trouxe pra casa um incômodo pesado
Trambolho, desajeitado
Me enrosquei com umas dúvidas difíceis de soltar
Me vesti de um vestido apertado, quase não dá pra respirar

A ignorância, de pernas cruzadas, me espera amanhã
No quintal
Num sofá de três lugares
Nos olhos escuros de um senhor devagar na rua
Comprida, calma, persistente 

No momento em que eu digo que não pras coisas
Quando eu deixo de crescer pra continuar aqui
Quando eu deixo de continuar pra viver em mim

Empurro pra longe toda a potencialidade de ser

No sol, as fragilidades marcadas que nem limão
Em mim, as faltas expostas numa rotina sem fim

Durmo e acordo com um desconforto pontudo,
feijão debaixo dos mil colchões 
Acordo e sorrio aos amores futuros,
esperança de quase certeza 
e vontade a vida toda


terça-feira, 23 de março de 2021

Me pareceu uma boa ideia

Gosto de quem confia o sono aos outros
Descansa nos meus braços, nas pernas, na barriga
Se deixa adormecer em mim
Eu gosto do conforto de merecer, assim, o sono de alguém
E da calma que é sentir a calma de ti

Gosto de ter muitos carinhos de uma vez
De trocar as horas, as simplicidades
Nunca fui boa com nomes,
Deixo-os escapar tão fácil quanto todo o resto

Cismo em gostar tudo de uma vez só
E me estrepo que nem o amor de Andrade 
Logo me percebo com os pés no chão
E já não tem mais paixão, nem pressa

Vivo em mim, desperta
Não me descanso em ti, atenta
Sem querer mesmo
Não durmo em ninguém a não ser em mim

Discreta, aberta
Me pareceu uma boa ideia pintar os olhos pra te ver de perto
Esqueci que sempre estamos longe demais

Não sei falar perto de você: a razão se esconde por um tempo


Eu, nos detalhes

Eu sou muito de tudo
E muito pouco

Sou o salto descuidado de uma bailarina iniciante
O som de duas folhas de papel de um livro breve, uma na outra
Sou a dificuldade que a gente tem de matar mosquito
O buraquinho na ponta da agulha, difícil de acertar

Eu sou a luzinha acesa no canto de um quarto de criança
A marca dos pés no chão da sala, que acabou de limpar
Sou o conhecimento infantil de quem começa a aprender de si
Um mapa complicado que ninguém entende, cheio de linhas azuis

Uma rua cheia de árvores, gostosa de caminhar
Eu sou um rio que não sabe onde vai dar
E o cansaço de subir uma rua aladeirada num dia de verão

Isso tudo pra poder ser eu, apenas, nos detalhes 


Transbordo de vez em quando

Quero poder agarrar o céu,
azul e cinza ao mesmo tempo
Mas não tão perto
pra não perder a graça

Quero me ter atenta
Mas só um pouco,
pra não morrer o a toa da vida
E andar descalça, descuidada do chão

Queria ter uma escada comprida, alta toda vida
Pra subir o quanto der
E ver de tudo miudinho
Perder o chão,
mas de propósito 

É que a gente se apressa nos dias e nas pessoas
E se demora nas coisas e nas dúvidas,
inúteis de não servir pra nada mesmo

Mas no fim me esparramo toda, eu nos meus caprichos
Me encaixo cada vez mais
no espaço que eu deixo pra mim

Não é que eu não saiba das coisas
Só não sei com certeza das margens de mim
E transbordo de vez em quando

terça-feira, 27 de outubro de 2020

As verdades de mim, lá e aqui

Lá eu faço muito, quase tudo
Aqui, penso toda vida
Rasa em amores contidos, numa rotina tímida de casa na árvore
Saudosa dos calores urgentes e veranis

Fugi daqui por um respiro
Cheguei em ti sei lá por que

Tenho andado muito em mim, numa dança improvisada
Eu me encanto toda, confete sem rumo em qualuqer carnaval
Eu sinto em enfim, bem como tem que ser

Eu me quis sentir, de uma vez só
Quis ficar na vida, me arrepiar inteira
Apostar corrida sem saber do fim

Se eu sair na chuva, molhada de cor
Se eu ficar deitada, num amor alongado
Ou quiser ser leve, me pintar de tudo
Talvez eu seja e só, tão viva que dói

Posso querer lembrar e esquecer
E ir e vir, num embaraço descuidado
Eu posso me curar dos meus anteontens
E arriscar todos eles se eu achar que sim

Entrei numa ciranda de coisas caprichadas,
sem querer ou querendo mesmo
Me achei numa vastidão alaranjada, amor do sol com o céu
Me apego a tudo e a tão pouco, sou mil pedaços de mim

Eu sou os caminhos improváveis de um rio atravessado
Sou a multidão barulhenta numa feira de fim de semana
Eu sou o som da água quando se nada no mar gelado
Sou o colorido dos olhos de alguém que enxerga os outros
Uma viagem bonita que se faz a pé
Sou o amor aos poucos, de quem não tem pressa
E a potencialidade de tudo o que eu quero ser